Muito se tem falado na falta de estratégia ou de rumo deste governo (o "caminho" como aprendi recentemente em formação), e por muito mais do que "apenas" pela famigerada medida da TSU.
Para uns, isso pode ser equiparado a uma espécie de "modo de piloto automático". Pela minha visão, reforçada recentemente pelos diferentes debates televisivos, parece-me mais um "modo M.a João Avillez". Digo isto com o máximo respeito pelo pluralismo e divergência de opinião, até porque não confundo unanimidade com unanimismo, e não fosse este um blog de contraditório.
Nas palavras da própria, os Portugueses saíram à rua no dia 15 de Setembro numa reacção "esquizofrénica" à medida da TSU, sem valorizar a "bondade" da mesma.
Esquece-se a bondosa "opinion-maker" (comentadora?) que hoje em dia a escolaridade obrigatória já abrange o 12.o ano, e que apesar de ainda termos uma % de analfabetismo e abandono escolar preocupante, a maioria das cidadãos Portugueses sabem ler, ouvir e, mais importante, pensar.
Nem seria preciso por isso evidenciar que as 1.as vozes críticas que se fizeram ouvir em relação a essa aberração anunciada foram conceituados e reconhecidos economistas e fiscalistas. Depois, quase em fila indiana, noticiário após noticiário, debate após debate, esses especialistas esquizofrénicos foram abrindo espaço a outros, desta feita empresários, prof.universitários, e até mesmo políticos, todos saltitando de canal em canal de tv, numa esquizofrenia desenfreada e fora de controlo.
No meio desta "espiral recessiva" de perda de racionalidade dos Portugueses, valeu-nos a lucidez do 1.o ministro numa entrevista que nada teve de arrogância, intimidação ou autismo político. Ah, e claro, existiu sempre a clarividência de M.a João Avillez, numa interpretação quase única (para não dizer isolada) da "bondade" da medida.
Curioso, só uma semana depois do anúncio da medida da TSU é que o povo sai à rua, depois de absorver tudo isto com conta, peso e medida (e fundamentalmente, com tempo para assentar ideias), exibindo o seu desabafo de uma forma tão cívica como clarividente, que nem o mais faccioso psiquiatra se atreveria a classificar de esquizofrénico. Pessoalmente prefiro "democrático" e "digno".
Ironicamente, mais do que bondosa, a manifestação foi "generosa" como exemplo de cidadania.
Mais uma vez, a sabedoria popular emerge no meio de tanta esquizofrenia: de boas intenções...
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
A política do medo
Esta noite o primeiro-ministro deu uma entrevista com o intuito de esclarecer o contexto do novo "pacote" de austeridade previsto para 2013 (e mesmo já para o final de 2012).
No essencial, nenhuma novidade a não ser o tom reforçado de ameaça sobre eventuais consequências de uma mais que previsível rotura social em que o país deverá mergulhar nas próximas semanas, meses (anos?)...
Fica na retina também a ameaça velada ao aumento de outros impostos, nomeadamente do IVA (como? com que efeito prático?) que para já teria sido preterida face à alternativa de aumentar a contribuição dos trabalhadores em sede de TSU. E que alternativa!
Até aqui vivíamos num limbo de opinião (e mesmo de aceitação) acerca das medidas e políticas de austeridade, em que a maioria das pessoas até pareciam abdicar do seu estatuto de cidadãos do país, assumido-se "apenas" como contribuintes da "vaquinha" em curso para liquidar o empréstimo internacional, suavemente apelidado de "assistência financeira".
Mas a partir do momento em que o governo não consegue explicar uma, duas e (hoje) três vezes o benefício prático da contra-medida na TSU (leia-se a redução da contribuição das empresas), assume a rota de colisão com o país, quer na dimensão individual dos cidadãos, quer das entidades colectivas que, em conjunto, representam a espinha dorsal, o corpo e a alma da economia e da sociedade.
Fica a ironia de colagem (nunca desejada) ao caso da Grécia, apontando o papão da famigerada 5.a avaliação da troika que terá sido negativa naquele país, e daí ter nascido a instabilidade social e a incerteza que hoje se verifica. Mas (tirando alguma desta areia dos olhos), na realidade a instabilidade e incerteza no caso grego já existem desde o início da implementação do programa "local" de ajustamento (pelo menos logo desde a 1.a avaliação).
E de novo ironicamente, a medida que origina todo este recém-nascido consenso nacional de contestação é sacudida do capote pela troika, remetendo para o governo a responsabilidade do aumento da carga para-fiscal (confisco?) dos trabalhadores em sede de TSU. Quando começamos a juntar 2+2, é impossível não identificar a carga ideológica de uma medida que de facto, tem por consequência prática uma transferência directa de liquidez dos assalariados para os patrões.
Para rematar, fica a ameaça muito pouco subtil ao CDS: tirem o cavalinho da chuva se pensam que podem fazer como a troika e sacudir a água do capote.
Em qualquer caso, fica um pouco de sabedoria popular: quem semeia ventos...
No essencial, nenhuma novidade a não ser o tom reforçado de ameaça sobre eventuais consequências de uma mais que previsível rotura social em que o país deverá mergulhar nas próximas semanas, meses (anos?)...
Fica na retina também a ameaça velada ao aumento de outros impostos, nomeadamente do IVA (como? com que efeito prático?) que para já teria sido preterida face à alternativa de aumentar a contribuição dos trabalhadores em sede de TSU. E que alternativa!
Até aqui vivíamos num limbo de opinião (e mesmo de aceitação) acerca das medidas e políticas de austeridade, em que a maioria das pessoas até pareciam abdicar do seu estatuto de cidadãos do país, assumido-se "apenas" como contribuintes da "vaquinha" em curso para liquidar o empréstimo internacional, suavemente apelidado de "assistência financeira".
Mas a partir do momento em que o governo não consegue explicar uma, duas e (hoje) três vezes o benefício prático da contra-medida na TSU (leia-se a redução da contribuição das empresas), assume a rota de colisão com o país, quer na dimensão individual dos cidadãos, quer das entidades colectivas que, em conjunto, representam a espinha dorsal, o corpo e a alma da economia e da sociedade.
Fica a ironia de colagem (nunca desejada) ao caso da Grécia, apontando o papão da famigerada 5.a avaliação da troika que terá sido negativa naquele país, e daí ter nascido a instabilidade social e a incerteza que hoje se verifica. Mas (tirando alguma desta areia dos olhos), na realidade a instabilidade e incerteza no caso grego já existem desde o início da implementação do programa "local" de ajustamento (pelo menos logo desde a 1.a avaliação).
E de novo ironicamente, a medida que origina todo este recém-nascido consenso nacional de contestação é sacudida do capote pela troika, remetendo para o governo a responsabilidade do aumento da carga para-fiscal (confisco?) dos trabalhadores em sede de TSU. Quando começamos a juntar 2+2, é impossível não identificar a carga ideológica de uma medida que de facto, tem por consequência prática uma transferência directa de liquidez dos assalariados para os patrões.
Para rematar, fica a ameaça muito pouco subtil ao CDS: tirem o cavalinho da chuva se pensam que podem fazer como a troika e sacudir a água do capote.
Em qualquer caso, fica um pouco de sabedoria popular: quem semeia ventos...
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
A mentira (read my lips...)
Hoje, 7 de Setembro de 2012, o primeiro-ministro de Portugal anunciou o aumento de 11% para 18% na Taxa Social Ùnica (TSU) descontada aos trabalhadores. E justificou por um lado com a necessidade de respeitar (?) a deliberação do Tribunal Constitucional, e por outro com a necessidade de estimular a criação de emprego, sendo que o aumento nos encargos dos trabalhadores é contrabalançado pela redução da TSU a cargo das empresas de 23,75% para 18%...
E é aqui que a "porca torce o rabo": afinal uma redução de 5,75% na TSU das empresas irá de facto incentivar a criação de novos postos de trabalho (leia-se"adicionais"), ou será mais provável que as empresas venham simplesmente a reter essa poupança e, logo, aproveitar para registar um aumento nos seus resultados sem qualquer aumento prévio de eficiência ou das suas vendas?
Fica no ar a noção de que será a 2a hipótese na esmagadora maioria dos casos...
E nesse caso, a contribuição "extra" de 7% dos trabalhadores vai direitinha... para os cofres das empresas! Num tom mais "sindicalista", há quem diga que as pessoas passam a pagar 7% para manter o seu emprego, como se de um soldo se tratasse, e devido pela "boa vontade" dos empresários em manter esses funcionários debaixo da sua "asa laboral". Ele há coisas...
É que já nem sequer há respeito pela austeridade: em 2011, pelo menos a retenção de 1/2 do Subsídio de Natal <=> cerca de 3,5% terá servido (?) para reduzir o défice do Estado; já na previsão para 2013, da retenção extra de 7% (!) apenas restará 1,25% para esse mesmo efeito. É ou não brincar com as pessoas?
Entretanto, a "piéce de résistance" veio dos lados da bancada parlamentar do CDS. Instado a comentar esta medida, o respectivo líder parlamentar repetiu ao jeito de George Bush (pai) o que o primeiro-ministro teria assegurado aos parceiros de coligação nessa tarde/noite: não há aumento de impostos.
("read my lips: there will be no more taxes!)
E é aqui que a "porca torce o rabo": afinal uma redução de 5,75% na TSU das empresas irá de facto incentivar a criação de novos postos de trabalho (leia-se"adicionais"), ou será mais provável que as empresas venham simplesmente a reter essa poupança e, logo, aproveitar para registar um aumento nos seus resultados sem qualquer aumento prévio de eficiência ou das suas vendas?
Fica no ar a noção de que será a 2a hipótese na esmagadora maioria dos casos...
E nesse caso, a contribuição "extra" de 7% dos trabalhadores vai direitinha... para os cofres das empresas! Num tom mais "sindicalista", há quem diga que as pessoas passam a pagar 7% para manter o seu emprego, como se de um soldo se tratasse, e devido pela "boa vontade" dos empresários em manter esses funcionários debaixo da sua "asa laboral". Ele há coisas...
É que já nem sequer há respeito pela austeridade: em 2011, pelo menos a retenção de 1/2 do Subsídio de Natal <=> cerca de 3,5% terá servido (?) para reduzir o défice do Estado; já na previsão para 2013, da retenção extra de 7% (!) apenas restará 1,25% para esse mesmo efeito. É ou não brincar com as pessoas?
Entretanto, a "piéce de résistance" veio dos lados da bancada parlamentar do CDS. Instado a comentar esta medida, o respectivo líder parlamentar repetiu ao jeito de George Bush (pai) o que o primeiro-ministro teria assegurado aos parceiros de coligação nessa tarde/noite: não há aumento de impostos.
("read my lips: there will be no more taxes!)
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