quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A política do medo

Esta noite o primeiro-ministro deu uma entrevista com o intuito de esclarecer o contexto do novo "pacote" de austeridade previsto para 2013 (e mesmo já para o final de 2012).
No essencial, nenhuma novidade a não ser o tom reforçado de ameaça sobre eventuais consequências de uma mais que previsível rotura social em que o país deverá mergulhar nas próximas semanas, meses (anos?)...
Fica na retina também a ameaça velada ao aumento de outros impostos, nomeadamente do IVA (como? com que efeito prático?) que para já teria sido preterida face à alternativa de aumentar a contribuição dos trabalhadores em sede de TSU. E que alternativa!

Até aqui vivíamos num limbo de opinião (e mesmo de aceitação) acerca das medidas e políticas de austeridade, em que a maioria das pessoas até pareciam abdicar do seu estatuto de cidadãos do país, assumido-se "apenas" como contribuintes da "vaquinha"  em curso para liquidar o empréstimo internacional, suavemente apelidado de "assistência financeira".
Mas a partir do momento em que o governo não consegue explicar uma, duas e (hoje) três vezes o benefício prático da contra-medida na TSU (leia-se a redução da contribuição das empresas), assume a rota de colisão com o país, quer na dimensão individual dos cidadãos, quer das entidades colectivas que, em conjunto, representam a espinha dorsal, o corpo e a alma da economia e da sociedade.

Fica a ironia de colagem (nunca desejada) ao caso da Grécia, apontando o papão da famigerada 5.a avaliação da troika que terá sido negativa naquele país, e daí ter nascido a instabilidade social e a incerteza que hoje se verifica. Mas (tirando alguma desta areia dos olhos), na realidade a instabilidade e incerteza no caso grego já existem desde o início da implementação do programa "local" de ajustamento (pelo menos logo desde a 1.a avaliação).
E de novo ironicamente, a medida que origina todo este recém-nascido consenso nacional de contestação é sacudida do capote pela troika, remetendo para o governo a responsabilidade do aumento da carga para-fiscal (confisco?) dos trabalhadores em sede de TSU. Quando começamos a juntar 2+2, é impossível não identificar a carga ideológica de uma medida que de facto, tem por consequência prática uma transferência directa de liquidez dos assalariados para os patrões.
Para rematar, fica a ameaça muito pouco subtil ao CDS: tirem o cavalinho da chuva se pensam que podem fazer como a troika e sacudir a água do capote.
Em qualquer caso, fica um pouco de sabedoria popular: quem semeia ventos...

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